Ilustra Casanova, de Salvador Dalí

‘Ilustra Casanova’ consiste em um conjunto de 14 gravuras originais nas quais o artista surrealista espanhol Salvador Dalí representa alguns episódios de Memoires de Giacomo Casanova, poeta e escritor veneziano do século XVIII. A série de 365 exemplares foi editada e publicada em 1967 por Au Cercle du Livre Précieux, em Paris.

Apesar de sua beleza, teria sido impossível publicá-la na Espanha, não só por causa do tema erótico com nudez feminina e masculina e exposição do órgão feminino, onde pelos pubianos são transformados em formigas e unhas; e o masculino como língua-serpente-pênis, no mais puro estilo do surrealista Dalí, por um lado precioso e, por outro, escatológico e irreverente, típico de seu período mais provocador.

Nelas, é possível observar a forca goyesca sujeitando a nuca do próprio Casanova enquanto ele recebe, em comunhão, um pássaro sem penas, uma mulher nua abraçada a um enorme chifre fálico de rinoceronte; ou cenas que remetem às ilustrações de ‘Os sonhos caprichosos de Pantagruel (os sueños Caprichosos de Pantagruel)’, com facas cortando a carne e grandes banquetes nos quais a estética se rompe ao compreender o conteúdo, que não exclui os próprios líquidos corporais.

Esse é o autêntico Dalí, que escandalizou Breton e o grupo “surrealista” ao demonstrar, a estes e ao mundo, que o surrealismo era ele, conforme manifestou publicamente, após sua ruptura com o movimento.

O surrealismo erótico de Salvador Dalí é um amálgama de imaginação transbordante e simbolismo provocativo que desafia as convenções tradicionais de representação sexual. Suas obras nesse gênero geralmente combinam elementos oníricos e sexuais de maneira surrealista, criando composições que oscilam entre o fascinante e o perturbador. Dalí emprega uma gama de imagens simbólicas, como relógios derretidos, figuras humanoides distorcidas e paisagens fantásticas, para explorar a psique humana e as complexidades do desejo. Seu surrealismo erótico evoca uma sensação do proibido e do subconsciente, desafiando o espectador a refletir sobre a natureza do desejo e da identidade.